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bibilly's reviews
321 reviews
As Águas-Vivas Não Sabem de Si by Aline Valek
adventurous
mysterious
medium-paced
- Plot- or character-driven? N/A
- Strong character development? No
- Loveable characters? No
- Diverse cast of characters? No
- Flaws of characters a main focus? Yes
2.5
quando você termina um livro sem entender por quê alguém se daria ao trabalho de escrevê-lo. meu primeiro contato com a autora foi em sua newsletter Bobagens Imperdíveis (a qual deixei de acompanhar por falta de tempo, mas era ótima), e digo com segurança que o peixe que ela tenta vender aqui sairia mais rápido em forma de ensaio, conto ou novela. assim o final não pareceria tão preguiçoso, embora acredite que nem mesmo assim ele satisfaria inteiramente alguém. pensei em dar 3 estrelas pelo capítulo da baleia cachalote,
mas esse e outros trechos de destaque são barquinhos perdidos em alto mar. pois isto não é uma antologia e o que conta é o todo — aquilo que o ilumina num capítulo o desgasta em muitos outros. personificar animais só encanta até certo ponto; e do que adianta tanta prosopopeia quando todos os humanos carecem de personalidade? o narrador tenta provar sem nunca mostrar que a protagonista não é uma tola irresponsável, e sim uma pobre coitada solitária e incompreendida, numa caracterização tão estéril quanto a estação submersa que habita. a história fica presa a esse ambiente e deixa de desenvolver as vidas e motivações dos personagens sem entregar nenhuma trama eletrizante em troca. as pequenas doses de suspense apontam para uma revelação ou clímax que nunca chega, desperdiçando uma ideia e um cenário pouco comuns na ficção. dessa forma, fica difícil não achar a escrita mecânica e robótica. não crua, mas distante. sabe aquele livro cabeça no qual nenhum diálogo soa natural, só que não de propósito? e os personagens parecem não pessoas, mas fantoches? é o debut da Aline Valek. em tentivas de floreio, a narração adquire o tom de um velhinho sentado ao pé da lareira numa noite de natal aumentando as próprias histórias para entreter os netos; ou de um adulto modulando bastante a voz ao ler para uma criança a fim de não entediá-la, recriando pausadamente as passagens mais complicadas (sim, já fiz isso). tenho certeza que para muitos tal recurso pode soar poético ou filosófico, mas a mim dificilmente convence, no máximo me faz destacar algumas linhas que não constroem nenhuma morada na minha memória. o enredo tedioso não ajuda, apesar de eu ter ido umas duas vezes no youtube pesquisar sobre mergulho saturado e câmeras hiperbáricas. enfim, para um livro que se apoia tanto no conceito de "abismo", é tudo muito raso. porém, o segundo romance da Aline também tem um título legal, então estou indo ler.
ps: pra quem se interessou pelo conceito do lado scifi da história, recomendo a trilogia Broken Earth, que também não tem o melhor final do mundo, mas cujo desenvolvimento é bem melhor.
mas esse e outros trechos de destaque são barquinhos perdidos em alto mar. pois isto não é uma antologia e o que conta é o todo — aquilo que o ilumina num capítulo o desgasta em muitos outros. personificar animais só encanta até certo ponto; e do que adianta tanta prosopopeia quando todos os humanos carecem de personalidade? o narrador tenta provar sem nunca mostrar que a protagonista não é uma tola irresponsável, e sim uma pobre coitada solitária e incompreendida, numa caracterização tão estéril quanto a estação submersa que habita. a história fica presa a esse ambiente e deixa de desenvolver as vidas e motivações dos personagens sem entregar nenhuma trama eletrizante em troca. as pequenas doses de suspense apontam para uma revelação ou clímax que nunca chega, desperdiçando uma ideia e um cenário pouco comuns na ficção. dessa forma, fica difícil não achar a escrita mecânica e robótica. não crua, mas distante. sabe aquele livro cabeça no qual nenhum diálogo soa natural, só que não de propósito? e os personagens parecem não pessoas, mas fantoches? é o debut da Aline Valek. em tentivas de floreio, a narração adquire o tom de um velhinho sentado ao pé da lareira numa noite de natal aumentando as próprias histórias para entreter os netos; ou de um adulto modulando bastante a voz ao ler para uma criança a fim de não entediá-la, recriando pausadamente as passagens mais complicadas (sim, já fiz isso). tenho certeza que para muitos tal recurso pode soar poético ou filosófico, mas a mim dificilmente convence, no máximo me faz destacar algumas linhas que não constroem nenhuma morada na minha memória. o enredo tedioso não ajuda, apesar de eu ter ido umas duas vezes no youtube pesquisar sobre mergulho saturado e câmeras hiperbáricas. enfim, para um livro que se apoia tanto no conceito de "abismo", é tudo muito raso. porém, o segundo romance da Aline também tem um título legal, então estou indo ler.
ps: pra quem se interessou pelo conceito do lado scifi da história, recomendo a trilogia Broken Earth, que também não tem o melhor final do mundo, mas cujo desenvolvimento é bem melhor.
É assim que se perde a guerra do tempo by Max Gladstone, Amal El-Mohtar
challenging
slow-paced
- Plot- or character-driven? N/A
- Strong character development? N/A
- Loveable characters? No
- Diverse cast of characters? It's complicated
- Flaws of characters a main focus? No
1.75
a prova de que uma boa prosa não torna uma história bem escrita.
toda vez que a comunidade leitora populariza uma obra como "poética" eu me preparo para algo pomposo, melodramático e insubstancial. mesmo assim, iniciei a leitura pronta para ceder umas 4 estrelinhas e usar a expressão "desafiando provérbios" toda vez que tomasse uma decisão questionável. agora eu olho para os sete dias que levei para terminar menos de duzentas páginas e eles parecem semanas. se por um lado a prosa deste livrinho é, até certo ponto, realmente notável, por outro, algumas escolhas — de formato (parte epistolar), gênero (scifi de viagem no tempo) e abordagem (zero fucks) — diminuíram seu impacto para mim.
tudo se resume ao fato de as protagonistas parecem mais bruxas anciãs conservadas em formol que viram o mundo acabar vezes demais para se importar genuinamente com ele do que espiãs rivais travando uma guerra através do espaço-tempo. penso que se esta fosse uma história de fantasia ou uma ficção histórica, e não uma ficção científica, haveria mais liberdade para a imprecisão deliberada dos autores, pois haveria menos necessidade de respostas ou a maioria estaria subentendida. aqui as exposições parecem por vezes apenas palavras coladas aleatoriamente, e no final a construção de mundo vai de confusa para risível. eu sou a primeira a reclamar de didatismo na ficção contemporânea, mas quando enquadramos um livro no scifi automaticamente esperamos explicações "científicas", ou no mínimo que a matéria não seja manipulada como mágica a bel prazer para dar vazão ao romance.
o que nos leva ao formato. amo abrir um livro e me deparar com cartas ou e-mails, principalmente em um romance, até quando não estou particularmente apaixonada por ele. dessa vez não foi diferente. entretanto, esse recurso só funciona de verdade se o casal já tiver se encontrado e ansiar por fazê-lo novamente, ou se a narrativa tecer um futuro além da correspondência, a surpresa da descoberta. nada disso acontece aqui, e pelo visto não sou romântica o suficiente pra me contentar com cartas. sem contar que os autores perderam a oportunidade de escrever uma friends-to-enemies-to-reluctant-allies-to-lovers. imagine isso numa fantasia ou livro de época, sem nenhuma tecnologia vaga ou obscura no caminho... agora quero um livro sobre bruxas espiãs de lados inimigos. higher stakes.
claro que tudo isso pode ser pontos positivos para outro leitor. vai mesmo da preferência de cada um.
uma acusação mais difícil de negar: as vozes das personagens se distinguem apenas pela intercalação entre elas e pelo uso do nome de cada uma somado a alusões a seus povos (com os quais elas têm uma conexão mais fraca que o meu wifi). se houvesse sucessão de capítulos sob o mesmo ponto de vista, a história seria ainda mais confusa, visto que o protagonismo duplo e o contrate de origens não influenciam no tom da narração nem invocam individualidade — algo que a gente espera em livros escritos por uma única pessoa, não por duas. os narradores, tanto em primeira quanto em terceira pessoa, são tão autoindugentes que acabam compartilhando a mesma personalidade, se é que existe uma.
além disso, como a história gira em torno de uma relação que abarca um grande espaço de tempo e as missões de ambos os lados não compõem nenhuma trama externa ou interligada, apenas um pano de fundo nebuloso, os capítulos lembram contos e não há uma progressão de eventos, tampouco psicológica. nunca vi uma guerra tão tediosa. as personagens parecem fantasmas de um enredo que poderia ter sido, mas não foi.
em suma, este livro é como ler um poema sobre um casal que você nunca conheceu — até bonito na superfície, mas a estética não impressiona o bastante para compensar a falta de vida entre as páginas.
por fim, escrevo esta resenha hoje graças à edição brasileira. encontrei pouquíssimos equívocos (a maioria uma questão de gosto), e acredito que seja mais satisfatória — não só mais acessível — a leitura da tradução. se dependesse do original, eu não teria saído do primeiro capítulo, mas nesta versão até o título soa melhor.
ps: terminei sem acreditar que, na trança do tempo, o futuro fica "fio abaixo" e o passado, "fio acima", e não o contrário.
toda vez que a comunidade leitora populariza uma obra como "poética" eu me preparo para algo pomposo, melodramático e insubstancial. mesmo assim, iniciei a leitura pronta para ceder umas 4 estrelinhas e usar a expressão "desafiando provérbios" toda vez que tomasse uma decisão questionável. agora eu olho para os sete dias que levei para terminar menos de duzentas páginas e eles parecem semanas. se por um lado a prosa deste livrinho é, até certo ponto, realmente notável, por outro, algumas escolhas — de formato (parte epistolar), gênero (scifi de viagem no tempo) e abordagem (zero fucks) — diminuíram seu impacto para mim.
tudo se resume ao fato de as protagonistas parecem mais bruxas anciãs conservadas em formol que viram o mundo acabar vezes demais para se importar genuinamente com ele do que espiãs rivais travando uma guerra através do espaço-tempo. penso que se esta fosse uma história de fantasia ou uma ficção histórica, e não uma ficção científica, haveria mais liberdade para a imprecisão deliberada dos autores, pois haveria menos necessidade de respostas ou a maioria estaria subentendida. aqui as exposições parecem por vezes apenas palavras coladas aleatoriamente, e no final a construção de mundo vai de confusa para risível. eu sou a primeira a reclamar de didatismo na ficção contemporânea, mas quando enquadramos um livro no scifi automaticamente esperamos explicações "científicas", ou no mínimo que a matéria não seja manipulada como mágica a bel prazer para dar vazão ao romance.
o que nos leva ao formato. amo abrir um livro e me deparar com cartas ou e-mails, principalmente em um romance, até quando não estou particularmente apaixonada por ele. dessa vez não foi diferente. entretanto, esse recurso só funciona de verdade se o casal já tiver se encontrado e ansiar por fazê-lo novamente, ou se a narrativa tecer um futuro além da correspondência, a surpresa da descoberta. nada disso acontece aqui, e pelo visto não sou romântica o suficiente pra me contentar com cartas. sem contar que os autores perderam a oportunidade de escrever uma friends-to-enemies-to-reluctant-allies-to-lovers. imagine isso numa fantasia ou livro de época, sem nenhuma tecnologia vaga ou obscura no caminho... agora quero um livro sobre bruxas espiãs de lados inimigos. higher stakes.
claro que tudo isso pode ser pontos positivos para outro leitor. vai mesmo da preferência de cada um.
uma acusação mais difícil de negar: as vozes das personagens se distinguem apenas pela intercalação entre elas e pelo uso do nome de cada uma somado a alusões a seus povos (com os quais elas têm uma conexão mais fraca que o meu wifi). se houvesse sucessão de capítulos sob o mesmo ponto de vista, a história seria ainda mais confusa, visto que o protagonismo duplo e o contrate de origens não influenciam no tom da narração nem invocam individualidade — algo que a gente espera em livros escritos por uma única pessoa, não por duas. os narradores, tanto em primeira quanto em terceira pessoa, são tão autoindugentes que acabam compartilhando a mesma personalidade, se é que existe uma.
além disso, como a história gira em torno de uma relação que abarca um grande espaço de tempo e as missões de ambos os lados não compõem nenhuma trama externa ou interligada, apenas um pano de fundo nebuloso, os capítulos lembram contos e não há uma progressão de eventos, tampouco psicológica. nunca vi uma guerra tão tediosa. as personagens parecem fantasmas de um enredo que poderia ter sido, mas não foi.
em suma, este livro é como ler um poema sobre um casal que você nunca conheceu — até bonito na superfície, mas a estética não impressiona o bastante para compensar a falta de vida entre as páginas.
por fim, escrevo esta resenha hoje graças à edição brasileira. encontrei pouquíssimos equívocos (a maioria uma questão de gosto), e acredito que seja mais satisfatória — não só mais acessível — a leitura da tradução. se dependesse do original, eu não teria saído do primeiro capítulo, mas nesta versão até o título soa melhor.
ps: terminei sem acreditar que, na trança do tempo, o futuro fica "fio abaixo" e o passado, "fio acima", e não o contrário.
Eu Que Nunca Conheci os Homens by Jacqueline Harpman
dark
emotional
reflective
sad
medium-paced
- Plot- or character-driven? Character
- Strong character development? Yes
- Loveable characters? It's complicated
- Diverse cast of characters? It's complicated
- Flaws of characters a main focus? Yes
3.75
"como um monumento de orgulho erigido com ódio frente ao silêncio."
meio assustador o quanto me identifiquei com a narradora, considerando que não cresci numa jaula. começamos bem.
(não leia as citações abaixo se não quiser >nenhum< spoiler)
meio assustador o quanto me identifiquei com a narradora, considerando que não cresci numa jaula. começamos bem.
(não leia as citações abaixo se não quiser >nenhum< spoiler)
"Li e reli o livro. Fui adquirindo com ele um conhecimento completamente inútil, mas que me dava prazer. Eu sentia como se minha mente estivesse adornada, e isso me fez pensar nas joias, aqueles objetos com os quais as mulheres realçavam sua beleza, no tempo em que a beleza servia para alguma coisa."
"Só eu posso dizer que o tempo existe, mas ele passou por mim sem que eu o sentisse. (...) Se alguém falasse comigo, haveria tempo, o início e o fim do que me fosse dito, o momento em que eu respondo, as palavras seguintes. A menor das conversas dá origem ao tempo. Talvez eu tenha tentado criá-lo ao escrever estas páginas: eu as começo, as encho de palavras, as coloco umas sobre as outras e continuo não existindo, já que ninguém as lê. Deixo elas para algum leitor desconhecido que provavelmente nunca chegará (...). Mas se esse leitor vier, ele vai lê-las, e eu terei um tempo na cabeça dele. Ele terá meus pensamentos nele: ele e eu, assim misturados, constituiremos algo vivo, que não será eu, já que estarei morta, e que não será mais ele tal como era antes da leitura, já que minha história, somada à sua mente, passará a fazer parte do seu pensamento. Eu só estarei realmente morta se ninguém vier, se passarem tantos séculos, e depois tantos milênios, e este planeta (...) não existir mais. Enquanto as folhas cobertas pela minha escrita permanecerem em cima desta mesa, eu poderei me tornar uma realidade em alguma mente. Então tudo desaparecerá, os sóis se apagarão e eu desaparecerei, como o universo. Porque muito provavelmente ninguém virá. Vou deixar a porta aberta e meu relato em cima da mesa, onde ele será aos poucos coberto pela poeira. Um dia, os cataclismos naturais que destroem os planetas varrerão a planície, o abrigo desabará sobre a pequena pilha de folhas bem organizadas, e elas se dispersarão entre os escombros, jamais lidas."
"Théa tentara me explicar o que significavam Deus e a alma para os cristãos. Parece que as pessoas acreditavam fortemente nisso, há menções até no prefácio de um dos livros de astronáutica. Sentei algumas vezes sob o céu, quando ele estava bem limpo, e fiquei observando as estrelas, enquanto eu dizia, com essa minha voz que ficou tão rouca: “Senhor, se você estiver em algum lugar aí em cima e não tiver muito o que fazer, venha conversar um pouco comigo, eu estou muito sozinha e isso me faria feliz”. Nada aconteceu. Então só me resta pensar que a humanidade, da qual me pergunto se realmente faço parte, tinha de fato muita imaginação"
Wilder Girls by Rory Power
Did not finish book. Stopped at 45%.
Did not finish book. Stopped at 45%.
im bored. and when it comes to ya fiction, that's quite the problem, because what else can it offer besides entertainment? here, very little. everything about this book is clickbait, from the cover to the synopsis and marketing selling it as a feminist slash sapphic body horror version of Lord of the Flies. while 99% of the cast are indeed women, mostly teenagers, i would argue this fact by itself doesn't make a book feminist; and there's no similarity between this and William Golding's debut besides both taking place on an island. also, despite not having finished the book, i dare say Rory Power's girls are too civilized, given the title, the premise and the fact they've been starving, sick and deformed for two winters (this book doesn't start at the beginning of the isolation as that classic does). they respect the rules in most circumstances, even though there are only two adults left; that's insane.
as for the w/w relationship, it comes out of nowhere: there's no build-up, no tension, no yearning, no nothing. the mc quickly comes to conclusions that are never shown on page. their feelings and personalities are so underdeveloped i was led to believe that the protagonist's love interest actually liked the other girl in their trio who goes missing and that her spiteful behavior towards the mc was out of jealousy, not due to repressed feelings LoL i guess that would be too much real drama for such a boring book. regardless, instead of the it's-always-been-you trope, the romance would make much more sense if it were a love triangle or an enemies-to-lovers with a slow burn to justify it.
although i tried very hard to give a shit about the characters, i failed. or this book failed me, its "wilder" girls making me yawn, its body horror aesthetic less effective than it could've been on screen. the author forgot at some point that the reader needs to know these girls and see their supposed strong bond in order to care about what happens to them. the story could end with all of them dead, for all i care. i kept reading up until now for the mystery surrounding the whole situation, and i guess i could finish just to hate on it as i've done in the past, but so many reviews warn about an open ending —which, in a book this superficial, screams lazy writing— and i don't want to start 2024 with a one-star read that could've been at least two. perhaps i'll be missing out on an interesting discussion on girlhood, but i doubt it.
as for the w/w relationship, it comes out of nowhere: there's no build-up, no tension, no yearning, no nothing. the mc quickly comes to conclusions that are never shown on page. their feelings and personalities are so underdeveloped i was led to believe that the protagonist's love interest actually liked the other girl in their trio who goes missing and that her spiteful behavior towards the mc was out of jealousy, not due to repressed feelings LoL i guess that would be too much real drama for such a boring book. regardless, instead of the it's-always-been-you trope, the romance would make much more sense if it were a love triangle or an enemies-to-lovers with a slow burn to justify it.
although i tried very hard to give a shit about the characters, i failed. or this book failed me, its "wilder" girls making me yawn, its body horror aesthetic less effective than it could've been on screen. the author forgot at some point that the reader needs to know these girls and see their supposed strong bond in order to care about what happens to them. the story could end with all of them dead, for all i care. i kept reading up until now for the mystery surrounding the whole situation, and i guess i could finish just to hate on it as i've done in the past, but so many reviews warn about an open ending —which, in a book this superficial, screams lazy writing— and i don't want to start 2024 with a one-star read that could've been at least two. perhaps i'll be missing out on an interesting discussion on girlhood, but i doubt it.
Senhor das Moscas by William Golding
adventurous
dark
reflective
tense
medium-paced
- Plot- or character-driven? A mix
- Strong character development? Yes
- Loveable characters? It's complicated
- Diverse cast of characters? No
- Flaws of characters a main focus? Yes
3.75
"We're not savages. We're English."
o tipo de clássico cuja discussão posterior pode ser mais entusiasmante que o livro em si. eu não via a hora de terminá-lo e finalmente ser capaz de pegar referências a ele em outras obras (inclusive, uma das minhas próximas leituras será Wilder Girls, que dizem ser inspirado em Lord of the Flies). considerando a nota que tem aqui, suas 200 páginas de descrição imersiva de cenário entremeada de terror e simbolismo não impressionam com facilidade.
talvez alguns não se interessem por esse pacote tanto quanto eu, ou achem que ele não se sustenta ou que não justifica a redução de outros elementos, como caracterização e ritmo. no entanto, toda narrativa sob o ponto de vista de crianças deve ser mais desafiadora para seu autor que o normal; e preenchê-la com um elenco grande sem alongá-la no processo é aceitar que seus leitores não se importarão com a maioria dos personagens. além disso, até os protagonistas não foram feitos para serem indivíduos completos mas representações da condição humana (podendo ser interpretados sob a luz da psicanálise, por exemplo, como id, ego e superego), da sociedade civilizada e sua frágil democracia, da ideia cristã de pecado original etc. o maior erro técnico de William Golding fica sendo, então, o corte de progressão —notável principalmente por dividir um livro curto— depois do capítulo 5, meu favorito. os seguintes, além de anticlimáticos, me fizeram perceber que eu não esperava o fator "alucinação" entrar em jogo, mesmo se tratando de crianças isoladas numa ilha. de todo modo, em um livro que deixa óbvio que em algum momento os personagens começarão a se matar, torna-se fundamental saber quando e como golpear a fim de provocar o maior impacto possível, mas Golding deixa a peteca cair na segunda metade, que deveria nocautear o leitor, mais de uma vez. particularmente decepcionante a cena da qual o título deriva.
já o final me fez lembrar tardiamente de Peter Pan, o que por sua vez me fez perdoar em parte os excessos caricatos. nesta sátira de histórias de aventuras que se passam em ilhas —a qual inclusive tira os nomes dos seus protagonistas de um clássico do gênero intitulado Coral Island— os selvagens não são os nativos do pequeno paraíso e sim anjos ingleses que nele caíram. então, se para Peter Pan, que tem um problema de ritmo muito maior (ao ponto de não ser viável deixar uma criança lê-lo sozinha, porque o meio do livro é chatíssimo) e de racismo escancarado (a ponto de não ser muito seguro deixar uma criança lê-lo sozinha, porque ela vai precisar da conscientização de um adulto) eu dei 4 estrelas só por ter chorado com o final, acho justo ceder 4 aqui também.
pode-se argumentar, por outro lado, que Golding pinta um quadro sutilmente racista. raça não é o que divide os únicos moradores da ilha, sendo todos brancos de similar condição econômica. questões fundamentais da natureza humana fazem esse papel. na verdade, o autor fabrica uma miniatura do mundo externo no contexto da Segunda Guerra, um conflito muito distante e ao mesmo tempo muito próximo dos personagens. porém, à medida que a selvageria vai tomando conta do ambiente, o narrador faz uso cada vez mais de termos comumente relacionados a culturas indígenas (tribo, lança, caça, ritual, pintura corporal etc) para diferenciar os garotos. o exemplo mais contundente está na linha "Which is better—to be a pack of painted Indians like you are, or to be sensible like Ralph is?"("indians" sendo traduzido para "negros" pela Alfaguara*, aparentemente de uma versão mais antiga em que "indians" era a n-word). em minha opinião, a consciência da nossa potente capacidade para aterrorizar e violentar uns aos outros, e de que é preciso muito pouco para que ela venha à tona, é o que permanece ao final.
agora, fora do campo das referências, outro título que passou pela minha mente durante a leitura foi Vidas Secas, dado o fato de os capítulos parecerem contos, ainda que não sejam tão independentes neste caso quanto naquele. isso facilita a divisão da leitura em um capítulo por dia ou entre obrigações para não ficar enfadonha, risco não tão baixo quanto deveria mesmo a obra tendo envelhecido até bem.
como aponta Stephen King em uma introdução para a Penguin, Senhor das Moscas é uma história sobre crianças para adultos, mas acho que se eu fosse mais nova, especialmente um menino mais novo como ele era quando a leu pela primeira vez, ela teria arrancado de mim uma reação mais visceral. ainda assim, me perguntei diversas vezes se eu não fui uma criança que também apertaria a concha gritando pelo seu direito de falar.
* não achei a tradução ruim, mas não concordo com algumas escolhas, como o uso excessivo de "gente" nos diálogos, o que quebra o clima de várias falas.
edit: infelizmente, a cena de conotações sexuais na qual Jack e sua trupe matam uma mãe porca torna-se ainda mais nojenta em retrospecto quando você descobre que o autor confessou ter tentado estuprar uma garota (três palavras no google oferecem uma lista de artigos).
o tipo de clássico cuja discussão posterior pode ser mais entusiasmante que o livro em si. eu não via a hora de terminá-lo e finalmente ser capaz de pegar referências a ele em outras obras (inclusive, uma das minhas próximas leituras será Wilder Girls, que dizem ser inspirado em Lord of the Flies). considerando a nota que tem aqui, suas 200 páginas de descrição imersiva de cenário entremeada de terror e simbolismo não impressionam com facilidade.
talvez alguns não se interessem por esse pacote tanto quanto eu, ou achem que ele não se sustenta ou que não justifica a redução de outros elementos, como caracterização e ritmo. no entanto, toda narrativa sob o ponto de vista de crianças deve ser mais desafiadora para seu autor que o normal; e preenchê-la com um elenco grande sem alongá-la no processo é aceitar que seus leitores não se importarão com a maioria dos personagens. além disso, até os protagonistas não foram feitos para serem indivíduos completos mas representações da condição humana (podendo ser interpretados sob a luz da psicanálise, por exemplo, como id, ego e superego), da sociedade civilizada e sua frágil democracia, da ideia cristã de pecado original etc. o maior erro técnico de William Golding fica sendo, então, o corte de progressão —notável principalmente por dividir um livro curto— depois do capítulo 5, meu favorito. os seguintes, além de anticlimáticos, me fizeram perceber que eu não esperava o fator "alucinação" entrar em jogo, mesmo se tratando de crianças isoladas numa ilha. de todo modo, em um livro que deixa óbvio que em algum momento os personagens começarão a se matar, torna-se fundamental saber quando e como golpear a fim de provocar o maior impacto possível, mas Golding deixa a peteca cair na segunda metade, que deveria nocautear o leitor, mais de uma vez. particularmente decepcionante a cena da qual o título deriva.
já o final me fez lembrar tardiamente de Peter Pan, o que por sua vez me fez perdoar em parte os excessos caricatos. nesta sátira de histórias de aventuras que se passam em ilhas —a qual inclusive tira os nomes dos seus protagonistas de um clássico do gênero intitulado Coral Island— os selvagens não são os nativos do pequeno paraíso e sim anjos ingleses que nele caíram. então, se para Peter Pan, que tem um problema de ritmo muito maior (ao ponto de não ser viável deixar uma criança lê-lo sozinha, porque o meio do livro é chatíssimo) e de racismo escancarado (a ponto de não ser muito seguro deixar uma criança lê-lo sozinha, porque ela vai precisar da conscientização de um adulto) eu dei 4 estrelas só por ter chorado com o final, acho justo ceder 4 aqui também.
pode-se argumentar, por outro lado, que Golding pinta um quadro sutilmente racista. raça não é o que divide os únicos moradores da ilha, sendo todos brancos de similar condição econômica. questões fundamentais da natureza humana fazem esse papel. na verdade, o autor fabrica uma miniatura do mundo externo no contexto da Segunda Guerra, um conflito muito distante e ao mesmo tempo muito próximo dos personagens. porém, à medida que a selvageria vai tomando conta do ambiente, o narrador faz uso cada vez mais de termos comumente relacionados a culturas indígenas (tribo, lança, caça, ritual, pintura corporal etc) para diferenciar os garotos. o exemplo mais contundente está na linha "Which is better—to be a pack of painted Indians like you are, or to be sensible like Ralph is?"("indians" sendo traduzido para "negros" pela Alfaguara*, aparentemente de uma versão mais antiga em que "indians" era a n-word). em minha opinião, a consciência da nossa potente capacidade para aterrorizar e violentar uns aos outros, e de que é preciso muito pouco para que ela venha à tona, é o que permanece ao final.
agora, fora do campo das referências, outro título que passou pela minha mente durante a leitura foi Vidas Secas, dado o fato de os capítulos parecerem contos, ainda que não sejam tão independentes neste caso quanto naquele. isso facilita a divisão da leitura em um capítulo por dia ou entre obrigações para não ficar enfadonha, risco não tão baixo quanto deveria mesmo a obra tendo envelhecido até bem.
como aponta Stephen King em uma introdução para a Penguin, Senhor das Moscas é uma história sobre crianças para adultos, mas acho que se eu fosse mais nova, especialmente um menino mais novo como ele era quando a leu pela primeira vez, ela teria arrancado de mim uma reação mais visceral. ainda assim, me perguntei diversas vezes se eu não fui uma criança que também apertaria a concha gritando pelo seu direito de falar.
* não achei a tradução ruim, mas não concordo com algumas escolhas, como o uso excessivo de "gente" nos diálogos, o que quebra o clima de várias falas.
edit: infelizmente, a cena de conotações sexuais na qual Jack e sua trupe matam uma mãe porca torna-se ainda mais nojenta em retrospecto quando você descobre que o autor confessou ter tentado estuprar uma garota (três palavras no google oferecem uma lista de artigos).
Os Herdeiros by William Golding
challenging
dark
reflective
sad
slow-paced
- Plot- or character-driven? Character
- Strong character development? It's complicated
- Loveable characters? It's complicated
- Diverse cast of characters? It's complicated
- Flaws of characters a main focus? It's complicated
3.5
no meio do livro eu já estava tão perdida quanto o neandertal mais burro da história, a cabeça um peso morto em cima do pescoço que nem o pobi do Lok repetindo "essa imagem eu não vejo" toda vez que alguém da família descreve algo abstrato demais para alguém sem testa e sem queixo. a diferença é que minha testa é enorme, então não tenho essa desculpa.
porém, admiro o esforço do autor em manipular a linguagem para (re)criar um estado mental extinto. seu experimento balança no ponto de convergência entre ficção, romantização e confirmação científica; e no final surpreende com duas mudanças de perspectiva a fim de provar que esse choque de espécies, ligadas pelo medo, se sustenta sob três ângulos distintos. embora contestável, o retrato desse confronto carrega autenticidade suficiente para se fazer convincente mesmo em 2023, quase sete décadas após a primeira publicação. interessante também como Os Herdeiros se afastam em premissa e ao mesmo tempo complementam em temática e argumento o Senhor das Moscas, primeiro livro do autor e antecessor deste.
só acho que Golding poderia ter sido um pouco mais direto em consideração aos meus genes neandertais, principalmente naquele meio quase intransponível; e que ele perdeu a grande chance de escrever um livro de terror pré histórico. chega a molhar os pés na água, mas desiste no meio do caminho. uma pena.
porém, admiro o esforço do autor em manipular a linguagem para (re)criar um estado mental extinto. seu experimento balança no ponto de convergência entre ficção, romantização e confirmação científica; e no final surpreende com duas mudanças de perspectiva a fim de provar que esse choque de espécies, ligadas pelo medo, se sustenta sob três ângulos distintos. embora contestável, o retrato desse confronto carrega autenticidade suficiente para se fazer convincente mesmo em 2023, quase sete décadas após a primeira publicação. interessante também como Os Herdeiros se afastam em premissa e ao mesmo tempo complementam em temática e argumento o Senhor das Moscas, primeiro livro do autor e antecessor deste.
só acho que Golding poderia ter sido um pouco mais direto em consideração aos meus genes neandertais, principalmente naquele meio quase intransponível; e que ele perdeu a grande chance de escrever um livro de terror pré histórico. chega a molhar os pés na água, mas desiste no meio do caminho. uma pena.
The Destroyer by Tara Isabella Burton
2.0
mad scientist uses her daughter as test subject in an alternative but still lifeless version of the Roman empire. will probably forget about it.
Pequenas Tiranias by Aline Valek
2.0
pequenas chatices. três contos que propõem um questionamento do automatismo cotidiano, mas que não saem do didatismo tão recorrente na ficção contemporânea. melhor reler a metamorfose.
The Space Between Worlds by Micaiah Johnson
medium-paced
- Plot- or character-driven? A mix
- Strong character development? It's complicated
- Loveable characters? It's complicated
- Diverse cast of characters? Yes
- Flaws of characters a main focus? Yes
2.75
"the person who's come to my rescue is exactly who I expect: me."
before reading it, i could already appreciate The Space Between Worlds for simply not being another multiverse story about a perfect white man being taken away from his perfect white family. Micaiah Johnson chooses instead to tell us about plausible social implications of the multiverse. weaving an impressive prose for a debut author (take notes, Blake Crouch), she tackles tough topics without being preachy or letting her own voice leak through the characters's while defending her case —a considerable feat in a first-person narration that even some books in third-person can't accomplish. the casual bi rep was also a welcome surprise.
yet, you'd think a story about parallel worlds between which only the scum of society can travel would be more exciting than this. beyond the premise (no one can visit a version of Earth where their counterpart is still alive, so most privileged and sheltered people are unable to), the worldbuilding is misty and lackluster. there's nothing extremely wrong about it, but nothing exactly right either.
you can't complain about info dump here, as a reviewer did; on the contrary: you keep waiting for the author to get to the specifics (what war? which religion? why are the emperor's runners so loyal? does half of the city live in this endless building or am i tripping?) and she seldom does, so the portrayed cultures along with their history remain blurry images, more like parts of a lost island than of our future world. spending an entire book with these people isn't enough to get to know them well, because most characters' motivations, backstories and relationships are never fully explained or explored. showing her skill, Johnson naturally drops some info and hints along the way for the reader to follow and be able to make guesses; and, granted, it would be an amateur mistake to over-explain things in a first-person narration done by a character not at all strange to the setting and who only deals with people familiar with it as well. the vague exposition, however, is insufficient to ground the story and make it a standalone. like Mad Max Fury Road without the efficiency of Mad Max Fury Road. that movie gives an immersive glimpse of a post-apocalyptic world and its society; this book gives way more than a glimpse of a futuristic and dystopian Earth, but doesn't manage to fully immerse you in it, so the reader stays floating in open sea.
the romance makes it all more lifeless. since the story starts six years after the two women met at work, the relationship doesn't unfold; their connection, feelings and admiration are just stated again and again in a dispassionate example of telling-not-showing. besides, i didn't get why the protagonist was so interested in her stupidly rich superior, who she believed to be "classist to the bone" and "disgusted by the idea of her". understandable to feel attracted to the woman even while holding to this belief; being romantically invested in her from the get-go that i find weird. the mc has more chemistry with the religious version of her ex as well as his less aggressive alternative than with the love of her life.
now, my biggest problem with this book coincides with my biggest problem as a reader: my inability to continue to respect a strong main character once they start making dumb decisions for convenience or to further the plot. i can't take seriously any reasonable thing they think, do or say after that. [mild spoilers ahead] if the protagonist in question has always had everything and everyone against them and decides to play the hero in favor of the same people who have wronged them, causing a true friend or ally to suffer the consequences in their place, i might actually wish them to die so the book can end faster.
for that reason, The Space Between Worlds felt a bit too long, despite all the plot lines and plot holes the author wanted to fit into it. i couldn't fathom why a black woman who had been in survival mode her whole life suddenly cared so much about the super-rich's lives. the funny thing is that another character literally points out that these fuckers have let multiple genocides happen, and she's still like "nop, i don't care about any of that, im in my dumb mode now, ready to contradict everything my inner voice has made clear about me up until this point, even if it puts my whole family at risk". with all the discussion on identity and belonging —and the mc's relatable desire to get as far away as possible from her upbringing, a desire that doesn't stop her from missing home— it would make much more sense for her to feel obliged to do something if the threat she tries to fight were first and foremost against her people.
"you'd think someone who'd seen her own corpse would be smarter than that." my thoughts exactly.
and so the most likable characters ended up being a man named Nik Nik and another called Mr. Cheeks, both victims of wasted potential and anticlimactic storylines.
before reading it, i could already appreciate The Space Between Worlds for simply not being another multiverse story about a perfect white man being taken away from his perfect white family. Micaiah Johnson chooses instead to tell us about plausible social implications of the multiverse. weaving an impressive prose for a debut author (take notes, Blake Crouch), she tackles tough topics without being preachy or letting her own voice leak through the characters's while defending her case —a considerable feat in a first-person narration that even some books in third-person can't accomplish. the casual bi rep was also a welcome surprise.
yet, you'd think a story about parallel worlds between which only the scum of society can travel would be more exciting than this. beyond the premise (no one can visit a version of Earth where their counterpart is still alive, so most privileged and sheltered people are unable to), the worldbuilding is misty and lackluster. there's nothing extremely wrong about it, but nothing exactly right either.
you can't complain about info dump here, as a reviewer did; on the contrary: you keep waiting for the author to get to the specifics (what war? which religion? why are the emperor's runners so loyal? does half of the city live in this endless building or am i tripping?) and she seldom does, so the portrayed cultures along with their history remain blurry images, more like parts of a lost island than of our future world. spending an entire book with these people isn't enough to get to know them well, because most characters' motivations, backstories and relationships are never fully explained or explored. showing her skill, Johnson naturally drops some info and hints along the way for the reader to follow and be able to make guesses; and, granted, it would be an amateur mistake to over-explain things in a first-person narration done by a character not at all strange to the setting and who only deals with people familiar with it as well. the vague exposition, however, is insufficient to ground the story and make it a standalone. like Mad Max Fury Road without the efficiency of Mad Max Fury Road. that movie gives an immersive glimpse of a post-apocalyptic world and its society; this book gives way more than a glimpse of a futuristic and dystopian Earth, but doesn't manage to fully immerse you in it, so the reader stays floating in open sea.
the romance makes it all more lifeless. since the story starts six years after the two women met at work, the relationship doesn't unfold; their connection, feelings and admiration are just stated again and again in a dispassionate example of telling-not-showing. besides, i didn't get why the protagonist was so interested in her stupidly rich superior, who she believed to be "classist to the bone" and "disgusted by the idea of her". understandable to feel attracted to the woman even while holding to this belief; being romantically invested in her from the get-go that i find weird. the mc has more chemistry with the religious version of her ex as well as his less aggressive alternative than with the love of her life.
now, my biggest problem with this book coincides with my biggest problem as a reader: my inability to continue to respect a strong main character once they start making dumb decisions for convenience or to further the plot. i can't take seriously any reasonable thing they think, do or say after that. [mild spoilers ahead] if the protagonist in question has always had everything and everyone against them and decides to play the hero in favor of the same people who have wronged them, causing a true friend or ally to suffer the consequences in their place, i might actually wish them to die so the book can end faster.
for that reason, The Space Between Worlds felt a bit too long, despite all the plot lines and plot holes the author wanted to fit into it. i couldn't fathom why a black woman who had been in survival mode her whole life suddenly cared so much about the super-rich's lives. the funny thing is that another character literally points out that these fuckers have let multiple genocides happen, and she's still like "nop, i don't care about any of that, im in my dumb mode now, ready to contradict everything my inner voice has made clear about me up until this point, even if it puts my whole family at risk". with all the discussion on identity and belonging —and the mc's relatable desire to get as far away as possible from her upbringing, a desire that doesn't stop her from missing home— it would make much more sense for her to feel obliged to do something if the threat she tries to fight were first and foremost against her people.
"you'd think someone who'd seen her own corpse would be smarter than that." my thoughts exactly.
and so the most likable characters ended up being a man named Nik Nik and another called Mr. Cheeks, both victims of wasted potential and anticlimactic storylines.
Nove Ensaios Dantescos & A Memória de Shakespeare by Jorge Luis Borges
informative
medium-paced
3.0
a quantidade de cenas citadas e descritas das quais não tenho memória é mais impressionante (porém, não surpreendente) que os ensaios em si. acho que gostei mesmo só de uns quatro ou cinco. A Memória de Shakespeare, ao contrário do que pensei, não é outra coleção de ensaios e sim de quatro contos. infelizmente, só o primeiro —em que Borges se coloca como protagonista duplo e recebe do seu eu futuro e suicida a previsão da escrita do conto enquanto o narra— me fascinou; amo qualquer pitada de metalinguagem. por algum motivo a narração de Os Tigres Azuis me lembrou Lovecraft, o que foi meio angustiante e tedioso, pois detesto praticamente tudo que li dele; no entanto, o final misterioso me lembrou que sou burra e deveria me poupar de qualquer crítica a autores de renome. também não acho que tenha entendido A Rosa de Paracelso completamente, mas, perto d'As Elegias de Duíno, que também li neste segundo semestre, qualquer simbologia obscura parece cristalina. quanto ao conto que dá título à pequena antologia, o potencial da sua premissa é completamente desperdiçado: andar por aí com as memórias de Shakespeare lutando por lugar na sua mente até começar a apagar sua própria identidade deveria ser uma viagem bem mais insana ou impactante, e esta não me marcou nem um pouco.
A afirmação "Um livro é as palavras que o compõem" corre o risco de parecer um axioma insípido. Mesmo assim, todos tendemos a acreditar que existe uma forma separável do fundo e que dez minutos de diálogo com Henry James nos revelariam o "verdadeiro" argumento de Outra Volta do Parafuso. Penso que talvez não seja verdade; penso que Dante não estava mais informado sobre Ugolino que o que está dito em seus tercetos. Schopenhauer declarou que o primeiro volume de sua obra capital consiste em um único pensamento, e que não encontrou modo mais breve de transmiti-lo. Dante, ao contrário, diria que tudo o que imaginou sobre Ugolino está nos debatidos tercetos.
No tempo real, na história, toda vez que um homem se vê diante de várias alternativas, opta por uma e elimina e perde as demais; o mesmo não acontece no tempo ambíguo da arte, semelhante ao da esperança e ao do esquecimento. Hamlet, nesse tempo, é são e é louco. Na treva de sua Torre da Fome, Ugolino devora e não devora os cadáveres amados, e essa ondulante imprecisão, essa incerteza, é a estranha matéria de que é feito. Assim, com duas possíveis agonias, sonhou-o Dante e assim o sonharão as gerações.