Sendo sincero, li esse mais pra treinar o francês do que por ter algum interesse prévio, mas Modiano é bom. Trata-se de um livro de investigação, mas à francesa, com aquele quê de literatura. Um livro de não ficção de um ficcionista, com um tema já triste já de antemão: menina judia e França na Ocupação, não tem como dar certo. Interessante notar como Modiano se depara com inúmeros vazios e lacunas em suas pesquisas, mas não tenta preenchê-los com literatura e imaginação. Fica tudo ao aberto, exposto, um resultado que também é prova do trabalho. Acaba mais cru, mais real e, por isso mesmo, acho, mais potente. E repleto de ligações, diretas ou não, com a vida dele, coincidências e desvios. Modiano, como judeu francês, vê em Dora e em sua família exemplos do que lhe poderia ter acontecido, se não pelos acasos do tempo. O que quase aconteceu com seu pai, com quem tem uma relação conturbada.

E, claro, muitas ruas de Paris.