Muito difícil falar algo desse livro. Nunca tinha lido nada do Brecht. Concordo muito com a análise do Benjamin em que ele diz que, em Brecht, "Em primeiro lugar é conseguido o efeito pedagógico, em seguida vem o político, e só ao fim o poético". O autor expõe as suas ideias de forma direta e objetiva, o que não significa que o mundo representado seja simples. Discorre-se sobre o funcionamento da sociedade como um todo - mais pobres se ferrando, mais ricos se beneficiando - e como os grupos de pessoas (não indivíduos) agem dentro dessa sociedade. O papel da religião, o uso feito pelos poderosos dos Boinas Pretas, o final sombrio - tudo isso demonstra que Brecht não vê um mundo excessivamente simplificado. O mundo é contraditório e deve ser mudado.

Muito interessante também o que outros, como Sartre, falam - o elemento clássico de Brecht. Uma aproximação com o teatro clássico. Não conheço nada disso, mas achei interessante.

De todo modo, o mais importante me parece ser justamente isso: um autor que tem posições muito fortes e escreve uma obra com um fim caracteristicamente pedagógico, escrita e pensada para ter uma apreensão intelectual e não catártica ou emocional. Não se relaciona a nível individual com qualquer personagem; a leitura não é fluida e os personagens não tem dimensões importantes de complexidade individual. Novamente, tudo é feito para a apreensão - de um mundo conflituoso e contraditório, cuja saída tem de ser a luta - de forma intelectual.

Acho uma leitura importantíssima e Brecht claramente tem muito sucesso no que se propõe a fazer. Tenho muito respeito pela posição e pela elaboração estética desse mundo contraditório, que é tão bem capturado.

O final, de Joana sendo usada como Santa pelos Boinas Pretas, comprados pelos gigantes da carne, é muito sombrio e eu achei muito bem construído.